Transpiração excessiva tem tratamento
Considerada
doença pela Organização Mundial de Saúde, a hiperidrose tem tratamento e deve
ser discutida com um especialista sempre que acarretar em um grande incômodo ao
paciente
A
transpiração é parte importante do sistema de regulação de temperatura
corporal, mantendo a nossa temperatura sempre em torno de 36,6ºC. Enquanto o
nosso metabolismo se encarrega de nos aquecer, o suor esfria – tal qual o
radiador de um automóvel.
As
glândulas sudoríparas, espalhadas ao longo do nosso corpo, na pele, são as
responsáveis pela produção e transporte do suor para fora do organismo. No
entanto, em algumas pessoas esta produção é excessiva, especialmente nas palmas
das mãos, plantas dos pés, axilas e crânio.
Em
entrevista exclusiva, o dr. Ricardo Mingarini Terra,
do Departamento de Cirurgia Torácica da Sociedade Paulista de Pneumologia e
Tisiologia (SPPT), esclarece as principais dúvidas sobre o tema e fala,
inclusive, sobre solução cirúrgica indicada para alguns casos específicos.
Confira!
Pessoas com excesso de peso suam
mais? Por quê?
Sim,
porque a gordura age com um isolante térmico, dificultando nestes indivíduos a
perda de calor. Assim, o suor é maior para que a temperatura seja mantida em parâmetros
adequados.
Do que é formado o líquido expelido
pelo suor?
O
suor é composto de água, eletrólitos como o sódio, o potássio e o magnésio,
além de minerais mais raros, como o zinco, o cobre e o níquel. Há também uma
pequena proporção de ureia.
Suar ajuda a emagrecer? Por quê?
Não,
este é um equívoco bastante frequente entre as pessoas. Quando transpiramos
apenas perdemos água. Conforme o volume, pode haver uma pequena diferença em
nosso peso. Mas esta diferença será reposta no momento da hidratação.
Por que o suor costuma ter cheiro
desagradável?
O
suor em si não tem cheiro. O que provoca o cheiro desagradável são as bactérias
que crescem nas regiões em que o suor se acumula.
Quais as maneiras mais eficazes de
controlar a transpiração?
A
transpiração é um processo fisiológico, deve se ter cautela ao imaginar
controlá-la. Temperatura, umidade, atividade física e peso corporal são
variáveis que podem ser manipuladas para controle do suor. Já a utilização de
óleos, talcos, desodorantes específicos, até o momento, não se mostraram
eficazes.
Quando a transpiração pode ser
considerada excessiva?
Ela
é excessiva quando chega ao ponto de interferir na qualidade de vida da pessoa,
fazendo com que ela deixe de realizar atividades ou sair de casa por conta da
transpiração. Nesse momento, é hora de procurar ajuda médica.
Quais são os sintomas da
transpiração excessiva? É possível atenuá-los?
A
pessoa transpira em horas inadequadas interferindo com suas atividades sociais
e laborativas. Existem três estratégias para lidar com isso: medicação, toxina
botulínica e cirurgia.
Em média, quantas pessoas no mundo
sofrem de transpiração excessiva?
Estudos
internacionais sugerem que a hiperidrose ocorra em 1% a 3% da população
mundial.
Existem diferentes níveis de
hiperidrose? Ela é considerada uma doença?
É
considerada uma doença pois provoca consequências psico-sociais, logo entra no
conceito de doença estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A hiperidrose pode ser secundária,
causada por alguma outra doença? Quais?
Sim,
a sudorese excessiva pode ser decorrente de doenças tiroidianas, diabetes,
tumores próximos à cadeia simpática. Outro causa possível é a menopausa.
Quais são as principais causas do
problema?
Não
se conhece a causa da hiperidrose. Especula-se que seja alguma alteração na
transmissão de impulsos nervosos oriundos do centro regulador da temperatura no
cérebro.
Quais os tratamentos possíveis?
Quais as novidades nessa área?
Conforme
o caso podem ser indicados tratamento medicamentoso, toxina botulínica ou
cirurgia. No caso da medicação, de uso diário, costuma haver melhora em 30 a
50%, principalmente quando no caso de hiperidrose axilar. Conforme se aumenta a
dose aumentam os efeitos colaterais, em especial boca seca e retenção urinária.
A toxina botulínica também vem apresentando bons resultados para a hiperidrose
axilar. As aplicações devem ser semestrais. No entanto, ao longo do tempo seu
efeito diminui. Outro ponto negativo é o custo alto. Para os casos com
indicação cirúrgica, temos bons resultados para hiperidrose palmar e axilar.
Como é realizada a cirurgia e qual o
tempo de recuperação?
A
cirurgia é indicada quando a hiperidrose provoca intenso comprometimento na
qualidade de vida do paciente e as outras estratégias menos invasivas não são
aplicáveis. O paciente é operado no mesmo dia da internação, com anestesia
geral. São realizadas duas incisões de cerca de 1 cm em cada lado do tórax (no
sulco mamário e na axila). A cirurgia dura cerca de 1 hora e após o
procedimento o paciente vai para o quarto. Em situações especiais pode ir para
casa no mesmo dia, mas geralmente a alta é no dia seguinte. A cirurgia consiste
na cauterização do 3º ou 4º gânglio simpático torácico. Este processo
interrompe o impulso nervoso que vem do centro regulador da temperatura no
sistema nervoso central em direção às glândulas sudoríparas da região de
interesse, evitando o suor nesta região.
Qual a porcentagem de sucesso das
cirurgias?
A
chance de resolução da sudorese é muito alta; os casos nos quais o procedimento
não é eficaz são pontuais.
A cirurgia pode gerar algum efeito
colateral? Por exemplo: sudorese compensatória em outras partes do corpo?
Dor
é a principal queixa no pós-operatório e mantemos medicação para controle de
dor por cerca de 10 dias. Também é comum a sudorese compensatória, pois, após a
cirurgia, uma superfície grande do corpo fica sem suar e o efeito regulador da
temperatura acaba aumentando a sudorese em outras regiões, como dorso, abdômen
ou virilhas. A sudorese compensatória é uma das razões que eventualmente pode
levar o paciente a se arrepender do procedimento cirúrgico e realmente acontece
em uma parcela dos pacientes. Mas isso vem diminuindo ao longo dos anos por
melhoria das estratégias cirúrgicas e de seleção dos pacientes. Outros efeitos
possíveis são a Síndrome de Horner (queda da pálpebra) e a hiperidrose
gustativa, porém ambas são raríssimas atualmente devido às mudanças no
tratamento cirúrgico que deixaram o procedimento mais seguro.
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